sábado, 27 de setembro de 2008

Trabalhar com moda

Faz meses que eu não escrevo, mas como percebi que de fato existe gente que lê meu blog, resolvi postar novamente. O motivo desse tempo ausente foi por um lado falta de tempo, mas por outro, uma certa desilusão com a moda, na verdade uma desilusão de trabalhar com moda, que me tirou a vontade de escrever. Por isso, esse post é um post meio desabafo.

Acho que todos, quando escolhem trabalhar com moda, eu incluso, têm uma visão fantasiosa desse mercado, imaginam como deve ser incrível trabalhar em um lugar em que você se identifica e acredita no produto final, um trabalho aprazível, sem aquela tensão de um ambiente burocrático e quem sabe até um certo glamour. Mas é impressionante como essas pessoas estão erradas...

Quanto mais gente que trabalha com moda eu conheço, mais conselhos de lugares onde NÃO trabalhar eu coleciono (em pouco tempo não vai sobrar mais nenhum!). Isso porque é um ambiente em que se trabalha com uma pressão forte em cima de prazos, todos os fornecedores e o mercado em si é muito pouco profissional, os egos são exacerbados e a falta de educação impera. Tanto que ver gente chorando no trabalho faz parte do cotidiano.

Então porque as pessoas trabalham com moda? Porque paga bem é que não é! Por glamour também não! Um amor incondicional à moda? Talvez...

A verdade é que eu estou há dias tentando terminar esse texto de um jeito positivo e não consigo achar a resposta pra essa pergunta. Se servir de consolo, pra mim, moda continua sendo um objeto de estudos incrível e fica a esperança de um dia fazer as coisas da minha maneira para que ninguém que trabalhe comigo tenha essa dúvida.

domingo, 13 de julho de 2008

"O que é Taiwan?"


Taiwan

O leitor pode estar se perguntando: O que que Taiwan tem a ver com moda? Será que ele vai falar sobre as importações da China? Da concorrência com a mão de obra barata? Na verdade não, eu estava no trabalho outro dia e eis que ouço essa pergunta logo atrás de mim vindo de uma estilista (ainda bem que o blog é novo e espero que ninguém de lá leia). A pergunta foi seguida por algumas indagações: "É uma cidade, um país? Fica perto da onde?" Eu juro que eu senti constrangimento alheio! (Ninguém precisa saber tudo, se você sente que a pergunta é cretina, olha no Google!) Imaginava que alguém daria a resposta e a autora se sentiria ridicularizada... mas não. A pergunta se espalhou e nenhuma estilista sabia a resposta. Colocaram Taiwan até na África!! Até que por fim elas perguntaram a um descendente de taiwaneses que deu fim à essa angustia.

Esse ocorrido me fez pensar como a moda é rotulada de fútil, superficial e outros vários nomes que eu sempre tentei desmentir tentando salvar minha própria consciência. Mas percebi que não dá pra desmentir uma verdade, e as pessoas que lidam com moda são realmente alienadas.

Aliás, um belo exemplo, são os estilistas quando falam de suas inspirações, muitos são pura contradição. As vezes dá medo de assistir seus comentários pra evitar desilusões e continuar pensando que existe uma mente pensante por trás das criações. Isso me fez pensar que talvez a moda seja chamada de "mundinho" não porque seja um clube fechado e com poucos integrantes, mas porque as pessoas vivem em uma bolha.

foto de Taiwan: trekearth

De qualquer jeito eu percebo que eu também não sou inocente nessa estória. Estou todo dia buscando informações e lendo sobre moda, mas sobre atualidades eu leio a Veja uma vez por semana (e muitas vezes bem mal lida). E sem ser hipócrita, eu não sou nenhum expert em Taiwan, e desde o ocorrido tenho me preocupado um pouco mais com o que se passa no mundo.

E você leitor sabe o que é Taiwan?

A boa notícia é que pra quem sabe ou procurar saber, vai ser um grande diferencial. E se você não é da moda e já sabia a resposta, percebe as oportunidades num mercado em que seus concorrentes estão nessas condições?

quarta-feira, 9 de julho de 2008

A armadilha ambiental

Por causa de uma conversa sobre meio ambiente e moda acabei me lembrando do último desfile da Osklen no SPFW. Nele, pra quem não se lembra, os chapéus eram de couro de jacaré. E é claro isso deixou todos os jornalistas com cara de interrogação, se perguntando: será que são falsos? qual o truque? Afinal a Osklen sempre posicionou como uma empresa sustentável e defensora do meio ambiente. Mas no final, o couro não era falso e não havia nenhum truque, o que fez com que Oscar Metsavaht tivesse muita explicação para dar.

E a resposta dele foi que aqueles jacarés foram mortos porque estavam desequilibrando o meio ambiente e, já que era assim, eles seriam ou jogados fora ou poderiam alimentar famílias com sua carne e, de quebra, virar chapéus no SPFW. Vendo por esse ponto de vista, o que ele fez foi praticamente RECICLAGEM!?! Mas pera aí... o homem não é quem mais desequilibra o meio ambiente? Por esse critério era melhor ter poupado uns jacarés e feito chapéu de gente! Imaginem: o homem veste o próprio homem, uma interpretação genial e macabra de Thomas Hobbes ("o homem é o lobo do homem"). Essa última coleção pode até servir como aviso, do tipo: "Olha o que eu faço com quem desequilibra o meio ambiente....virou chapéu!"

Mas, exageros à parte, meu ponto é que a Osklen virou vítima do seu discurso. Para a marca, esse tipo de postura gera muitas limitações de materiais, porque a indústria têxtil não é uma indústria que polui pouco, além de custos e expectativas do mercado. Tudo o que você fizer, você tem que explicar. Por outro lado quem se omite, que é a maioria, fica totalmente livre da pressão. Depois do episódio com a PETA, ninguém fala nada se a Gisele usar pele. Fica um clima de: "tudo bem, ela não é consciente". Não deveria ser o contrário? Pressionar quem não faz nada e reconhecer quem faz algum esforço?



fotos do chic

domingo, 6 de julho de 2008

Sobre M & A na moda

Eu comecei a escrever esse texto e logo percebi que estava ficando uma leitura pesada (como todo texto de finanças), e claro que seriedade é importante, mas eu não quero entediar ninguém, afinal de contas isso ainda é um blog. Então o que eu fiz foi começar de novo sem narrar os fatos e me preocupar com números, quem quiser detalhes que leia um jornal, aqui só tem minha opinião.


Para quem não é adepto dos jargões financistas e o título não quis dizer muita coisa, meu propósito é comentar a nova fase que está entrando a moda brasileira, que será, aqui, carinhosamente apelidada de moda “com fusão”. A sigla M & A em inglês significa fusões e aquisições, que têm se tornado freqüente na moda nacional, com a aquisição de marcas por grupos de investimento. De fato, com tantos contratos cancelados e pagamentos atrasados a situação se tornou bastante confusa, mas acredito que as dificuldades são passageiras nesse período de transição e o trocadilho, com sorte, logo perderá o sentido.


A verdade é que caminhamos para um modelo de gestão de marcas parecido com o do exterior, em que as principais marcas de luxo já pertencem a grandes grupos. Essa pode ser uma grande oportunidade para a moda brasileira, e essa nova configuração pode beneficiar todos.


Em primeiro lugar os estilistas poderão dedicar seu tempo totalmente para a criação sem se dividir com os problemas burocráticos e administrativos, em segundo lugar as marcas compradas terão acesso a recursos financeiros e poderão receber investimentos que, sozinhas, não teriam nem em sonhos. Outro beneficiado é o consumidor, pois fazendo parte de um grupo as marcas ganham poder de barganha com seus fornecedores e podem ter ganhos de escala nas compras e na produção, ou seja, com custos menores as peças que antes eram semi-artesanais chegam às lojas com preços mais acessíveis. Por fim e mais importante, a moda brasileira como um todo sai ganhando, pois até começarem as aquisições a moda não era vista como uma oportunidade séria de negócios e dificilmente estampava o caderno econômico de algum jornal. Porém isso tem mudado e com as gestões profissionais, as chances das marcas serem lucrativas aumentam e dentro de um grupo elas se tornam mais organizadas e fortes.


Por outro lado, um “porém” para os estilistas venderem suas marcas que eu escuto com freqüência é o medo de perderem o controle criativo e serem substituídos. Mas se olharmos os exemplos internacionais, Marc Jacobs pertence à LVMH, Alexander McQuenn e Stella McCartney pertencem à Gucci e entre outros muitos exemplos essas marcas não teriam a menor razão de existir sem seus criadores e eles não correm o menor risco de perderem seus empregos. No Brasil deve acontecer o mesmo, e mesmo assim, se com a venda os estilistas se tornam milionários, pelo menos o medo de serem substituídos serve de incentivo para que continuem nos surpreendendo a cada coleção.


Portanto a moda “com fusão” é uma tendência das últimas estações que veio para ficar, e os novos estilistas que se preparem, se esforcem para criarem um estilo próprio e serem vistos, deixem a contabilidade em dia e olhem para essa realidade com otimismo.


Só para provocar, já que falei do medo dos estilistas de perderem suas marcas as imagens de inspiração da vez são do primeiro desfile de alta costura da Alessandra Fracchinetti, que substituiu o Valentino em sua própria maison

imagens do style.com

domingo, 29 de junho de 2008

Enfim

Olá

Esse é um primeiro post na tentativa de me tirar de inércia. O fato é que eu abri esse blog há meses, e desde então estive muito pouco motivado para escrever. Mas eu tenho muito a dizer e várias idéias e opiniões que não quero mais guardar para mim. Na verdade a função desse blog, pra mim, é exatamente essa: colocar coisas pra fora, um substituto para terapias e um alívio para os ouvidos pacientes dos amigos.

Como esse blog é totalmente experimental e sem compromissos, não estranhem se, de repente, meu texto não estiver em primeira pessoa (ou estiver). O formato da redação é algo que eu não decidi ainda, conforme eu for escrevendo verei o que funciona melhor. O que definitivamente não acontecerá aqui é o uso de "fashionistês", aquela linguagem em que chovem adjetivos e expressões em inglês. Portanto se você espera um blog do tipo "de amiga pra amiga" esse é o lugar errado, mesmo porque biologicamente é impossível eu ser amiga de alguém.

Então, afinal, o que vai ter nesse blog?

Minha proposta é escrever sobre moda, não a moda efêmera do que se está usando na estação (que eventualmente pode até entrar em pauta), mas pensar a moda em si, que é algo que eu sinto falta. Muita gente é atraída pelo lado show da moda e muito poucos param para pensar sobre ela. Talvez realmente ninguém queira pensar sobre ela e eu fique escrevendo para o vazio, mas esse também é um direito meu!

Por outro lado, distanciar totalmente a moda da imagem não faz sentido, por isso eu vou tentar sempre postar junto algumas imagens do que me chamou à atenção entre um post e outro.
Recentemente eu assisti o desfile do Lino Villaventura e, de longe (consideravelmente longe para um míope), essas foram minhas peças preferidas.


fotos do chic