Eu comecei a escrever esse texto e logo percebi que estava ficando uma leitura pesada (como todo texto de finanças), e claro que seriedade é importante, mas eu não quero entediar ninguém, afinal de contas isso ainda é um blog. Então o que eu fiz foi começar de novo sem narrar os fatos e me preocupar com números, quem quiser detalhes que leia um jornal, aqui só tem minha opinião.
Para quem não é adepto dos jargões financistas e o título não quis dizer muita coisa, meu propósito é comentar a nova fase que está entrando a moda brasileira, que será, aqui, carinhosamente apelidada de moda “com fusão”. A sigla M & A em inglês significa fusões e aquisições, que têm se tornado freqüente na moda nacional, com a aquisição de marcas por grupos de investimento. De fato, com tantos contratos cancelados e pagamentos atrasados a situação se tornou bastante confusa, mas acredito que as dificuldades são passageiras nesse período de transição e o trocadilho, com sorte, logo perderá o sentido.
A verdade é que caminhamos para um modelo de gestão de marcas parecido com o do exterior, em que as principais marcas de luxo já pertencem a grandes grupos. Essa pode ser uma grande oportunidade para a moda brasileira, e essa nova configuração pode beneficiar todos.
Em primeiro lugar os estilistas poderão dedicar seu tempo totalmente para a criação sem se dividir com os problemas burocráticos e administrativos, em segundo lugar as marcas compradas terão acesso a recursos financeiros e poderão receber investimentos que, sozinhas, não teriam nem em sonhos. Outro beneficiado é o consumidor, pois fazendo parte de um grupo as marcas ganham poder de barganha com seus fornecedores e podem ter ganhos de escala nas compras e na produção, ou seja, com custos menores as peças que antes eram semi-artesanais chegam às lojas com preços mais acessíveis. Por fim e mais importante, a moda brasileira como um todo sai ganhando, pois até começarem as aquisições a moda não era vista como uma oportunidade séria de negócios e dificilmente estampava o caderno econômico de algum jornal. Porém isso tem mudado e com as gestões profissionais, as chances das marcas serem lucrativas aumentam e dentro de um grupo elas se tornam mais organizadas e fortes.
Por outro lado, um “porém” para os estilistas venderem suas marcas que eu escuto com freqüência é o medo de perderem o controle criativo e serem substituídos. Mas se olharmos os exemplos internacionais, Marc Jacobs pertence à LVMH, Alexander McQuenn e Stella McCartney pertencem à Gucci e entre outros muitos exemplos essas marcas não teriam a menor razão de existir sem seus criadores e eles não correm o menor risco de perderem seus empregos. No Brasil deve acontecer o mesmo, e mesmo assim, se com a venda os estilistas se tornam milionários, pelo menos o medo de serem substituídos serve de incentivo para que continuem nos surpreendendo a cada coleção.
Portanto a moda “com fusão” é uma tendência das últimas estações que veio para ficar, e os novos estilistas que se preparem, se esforcem para criarem um estilo próprio e serem vistos, deixem a contabilidade em dia e olhem para essa realidade com otimismo.
Só para provocar, já que falei do medo dos estilistas de perderem suas marcas as imagens de inspiração da vez são do primeiro desfile de alta costura da Alessandra Fracchinetti, que substituiu o Valentino em sua própria maison
imagens do style.com